Correndo para acertar o ponto

A Rua Chile

Correndo para acertar o ponto

Eu não consigo chegar na hora

E pego o bonde para a Sé

Sem ter vontade de chegar!

Por esperança, entendo moça

Mas, se quero passar a Chile

Tenho que pensar bem devagar

E voltar ao dia que morrerei

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Conto – Quase tudo que aprendi – Parte II

No lugar marcado, desci do carro.

– Onde estão os outros?

– Ficaram fechando o portão!

– Vamos esperá-los lá dentro! – Falou com ar de chefe que não tinha.

Entrei no armazém.

No escuro, escutava os passos do homem à minha frente. Queria matá-lo ali, mas, estranhamente, senti uma enorme vontade de ver a cor do seu sangue; queria ouvir o zumbido dos tiros ressoando na arma comprada no dia anterior.

Depois de subir dois lances de escadas, entramos em uma sala igualmente escura aos corredores do velho prédio.

– Sente-se – disse ele.

– Fico em pé mesmo. Não pagaram a conta da luz…?

– Atrás de você tem uma tomada. Acenda se quiser.

Sem deixá-lo fora do meu campo de visão, virei-me para ligar a única lâmpada do ambiente retangular. A luz acendeu-se no meio da sala, quase em cima da cabeça de André. Reparei que seus sapatos eram vermelhos.

– Sapatos novos? – disse seguindo em direção à janela. Olhei para o estacionamento; não vi os homens que matei antes; queria vê-los ali, de “pés”.

Um minuto de silêncio. Ele acendeu um cigarro. Provavelmente da mesma marca vagabunda que aquela mulher na chuva fumava.

– Minha mãe me deu quando fui visitá-la, na Páscoa. Ela é um pouco religiosa, sabe? Ela sabia que a minha cor preferida é o vermelho.- falou isso apontando, com o cigarro, para os sapatos lustrosos e incrivelmente vermelhos.

– A minha também! – falei francamente – Minha mãe adora rosas vermelhas.

– O quê?

Matei o homem com dois tiros sem deixa-lo respirar; nem eu mesmo respirei..
Quando estava na Rodovia, vi a Lua caindo no horizonte perante o Sol.

Três homens no porta-malas, um deles tinha sapatos vermelhos melados de sangue.

Coloquei fogo no carro quando o Sol saiu.

Saldo do final de semana: um banco assaltado; três comparsas esperando atravessar o rio, mas, sem moedas para o barqueiro; e eu, com pouco mais de um milhão em notas usadas, rico.

Mas não muito orgulhoso, assim como o Sol que afugentou a Lua!