Fernando Pessoa e Eu

Você, Fernando Pessoa,  me disse que “o essencial da arte é exprimir; o que se exprime não interessa”. Mas, ai, eu pergunto, querido companheiro, e quando se tem mais que “arte” envolvido no meio da coisa? O que devo exprimir? E isso não terá valor também? E por acaso terei que esconder meus sentimentos se outros o fazem por medo? E se eu não querer isso? E se meu objetivo é o resultado, a coisa “exprimida” e não o processo? E se não me interessar o contexto e eu só querer sentir, fruir o que terei no final da arte, sem ligar para mais nada? E se, em síntese, Fernando Pessoa, eu querer ser apenas feliz e arriscar abdicar do essencial da arte?

Mas, com medo pergunto também, e se esse resultado dela, a “arte”, ficar tentando se esconder de mim?  Querendo esconder dos meus olhos o que leio com o resto, meu coração? Vou ter que aceitar o que você disse?

Ouso dizer-lhe que não vou cair por terra ou desistir, querido amigo, mesmo que insista em tentar-me desviar da verdadeira arte: a arte que não busca ser essencialmente arte.

Pois não sou poeta

Eu não sou poeta!

eu me movo

com certas palavras e cores

do mundo grande sem profetas

 

Que os campos têm provavelmente mais flores

Eu ainda não vi nenhum dia

Nada que me fizesse perder a esperança que se aproxima

de uns certos simples rumores

 

Coisas que dizem meu coração

coisas para qual eu temia ver e queria,

com certeza, poder inventar uma palavras para isso

mas, como dizem, não sou poeta então.

 

Carro que me leva não me trás se quiser

e é hora de chover para poder pisar na poça

e ficar te esperando sozinho

te esperando para ver o que vou te dizer de pé

 

Para algo mais eu fico só olhando

coração agradece se toco meu próprio peito

Sentir felicidade não é coisa de quem escreve

é coisa de quem lê outra face pensando

 

Se não dá para ver a noite impede crer

eu simplesmente finjo não temer nada

pois, é claro, eu quero ver o abrir do dia

E pintar quadros com Sol e sua letra de nome tecer

 

Pois se noites longas não durmo bem

Durmas por este que dizem poeta não ser

Poeta finge muito bem, eu não

Só ligue para quem de longe vem

 

Que assim me aquieto com te ver

Pois não sou poeta

Sou outra coisa que quero pra mim

Sou aquele que vai escrever e dizer “você”: você!