No lugar marcado, desci do carro.
– Onde estão os outros?
– Ficaram fechando o portão!
– Vamos esperá-los lá dentro! – Falou com ar de chefe que não tinha.
Entrei no armazém.
No escuro, escutava os passos do homem à minha frente. Queria matá-lo ali, mas, estranhamente, senti uma enorme vontade de ver a cor do seu sangue; queria ouvir o zumbido dos tiros ressoando na arma comprada no dia anterior.
Depois de subir dois lances de escadas, entramos em uma sala igualmente escura aos corredores do velho prédio.
– Sente-se – disse ele.
– Fico em pé mesmo. Não pagaram a conta da luz…?
– Atrás de você tem uma tomada. Acenda se quiser.
Sem deixá-lo fora do meu campo de visão, virei-me para ligar a única lâmpada do ambiente retangular. A luz acendeu-se no meio da sala, quase em cima da cabeça de André. Reparei que seus sapatos eram vermelhos.
– Sapatos novos? – disse seguindo em direção à janela. Olhei para o estacionamento; não vi os homens que matei antes; queria vê-los ali, de “pés”.
Um minuto de silêncio. Ele acendeu um cigarro. Provavelmente da mesma marca vagabunda que aquela mulher na chuva fumava.
– Minha mãe me deu quando fui visitá-la, na Páscoa. Ela é um pouco religiosa, sabe? Ela sabia que a minha cor preferida é o vermelho.- falou isso apontando, com o cigarro, para os sapatos lustrosos e incrivelmente vermelhos.
– A minha também! – falei francamente – Minha mãe adora rosas vermelhas.
– O quê?
Matei o homem com dois tiros sem deixa-lo respirar; nem eu mesmo respirei..
Quando estava na Rodovia, vi a Lua caindo no horizonte perante o Sol.
Três homens no porta-malas, um deles tinha sapatos vermelhos melados de sangue.
Coloquei fogo no carro quando o Sol saiu.
Saldo do final de semana: um banco assaltado; três comparsas esperando atravessar o rio, mas, sem moedas para o barqueiro; e eu, com pouco mais de um milhão em notas usadas, rico.
Mas não muito orgulhoso, assim como o Sol que afugentou a Lua!