O surpreendente caso de Anie Puskasls

“Anie Puskals foi abduzida!” Com esses gritos ecoando nas paredes nas casas da rua acordei assustado, às 8h da madrugada. Parecia que o Fulher havia sido ressuscitado! Já não me bastava trabalhar de segunda a sábado e naquele domingo também não teria descanso?

Tomei meu café quente como de habitual, dei de comer ao cachorro, tirei la neige da minha porta e sai para ver o que aquelas senhoras desbocadas estavam tagarelando na Rua Pokój.

Coloquei minha bengala na frente e as minhas pernas, feridas por duas guerras, atrás. Parei na primeira porta onde havia duas senhoras fofocando. Não precisei andar muito, dei cinco passos para a direita e parei em frente ao portão da casa dos Oświecony. A senhora Oświecony tinha a minha idade e conversava com a vizinha do final da rua, esta era mais nova. Elas pararam de trocar verbos quando viram minha assombrosa figura lhes encarando. De toda sorte, perguntei:

– Quem foi que morreu?

Continuar lendo “O surpreendente caso de Anie Puskasls”

Président du Brésil

Sonho vem sonhando bem sonhado: o novo presidente do Brasil já está com a faixa e se deixa flutuar pelos gramados do planalto central. A multidão ovaciona o mais novo presidente do país, da Ordem e Progresso. Todos se sentem orgulhosos pelo seu novo mandatário e governante. E, ele se sente amado por todos e goza de sua glória ao pisar os pés no Palácio do Planalto ou de sentir a grama da Granja do Torto sustentá-lo pela primeira vez.

Acorda!

– Acorda menino! – gritou da cozinha sua mãe – Menino, tá na hora de tomar café. E trate de andar logo para não perder suas aulas… Eu te conheço bem… Levanta moleque!

E se levantou como um gigante glorioso em berço esplêndido!

Caiu de novo em seu travesseiro cor de Carmim!

– Era sonho? Não, não mesmo, eu sou presidente! Meu primeiro decreto – levantou a voz como só um menino de oito anos de idade poderia e todos na sala de aula ouviram– será que: amanhã não haverá aula para meninos e meninas! Aliás, não, as meninas são muito chatas. Só meninos não terão aula amanhã! Viva eu!

E correu!

Como se fosse Napoleão, ergueu a mão com a espada e disse à lá D. Pedro: “Independência ou morte!”

Cor de cajú
Cor de cajú

Sebo nas canelas de saracura para que a professora não o pegasse pela orelha, como já fizera diversas vezes. “Meu cavalo branco é muito rápido – orgulha-se – é cavalo de Rei Turco! Você não me pega velha!

“A eu te pego seu moleque dos diabos…”, gritava a pobre freira!

E quando corria, corria pra valer até que o nobre cavalo pedia a rego e dormia debaixo de um cajueiro verde e amarelo. Tanto animal quanto cavaleiro deliciavam o fruto doce do grande sertão!

Mas, havia dois olhos no mato. Dois olhos de mato! Dois olhos de fato.

O menino não poderia ser rei por muito tempo! Impérios muito grandes não duram para todo sempre. E era a vez do céu azul, daqueles descampados no meio do nada, ver ruir uma babilônia.

– Eu sou o único manda-chuva por essas bandas! – uivou bem alto, como se fosse um lobo, o cachorro!

– Não tenho medo de cachorros! Caçar faisões é só para o  que sevem!

E era pego!

A mãe pegou o menino pelo braço e o fez desmontar o jumento do seu Anastácio. “O velho pensava que lhe tinha roubado seu jegue, moleque”, exclamava a enfurecida mãe! “Fui comprar umas cebolas e ouvi a história que o velho contava ao delegado. E de quebra as velhas do convento dobravam a esquina. Aí, eu vi tudo!” O menino arregalou o olho esquerdo, como era de praxe quando pressentia que encrenca vinha perto!“E, agora corre pra dentro de casa, que se te pego no caminho sou capaz de umas coisas… Ah, Meu Deus… Corre, não disse pra ir pra casa?!”- gritou a mulher!

– Deixa pra próxima. Mas, se ele não detiver essa vontade de ser o melhor, vai ver só! Eu sou bem mal quando preciso, vê só!

O mundo precisa de heróis

Não passa por minha cabeça, creio que, também, pela da maioria dos jovens deste país, desistir de meus sonhos. Tenho 21, sou, como canta a música, apenas mais um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso e que já viu muita coisa nessa vida, apesar de ser tão jovem.

É claro que não deliro ao não ver algo de bom no futuro, neste país, para os pretos, pobres, mulheres sozinhas, estudantes e oprimidos.

Nas cidades brasileiras, cada vez mais, há solidão e sonhos para os que estão à margem do sistema ou dormem nas escadarias da Lapa ( do mundo ).

Cachorros e homens disputando o mesmo lixo é cruel. Homens disputando o meu imposto é cruel!

Eu sou cruel! Choro um Rio Vermelho…

Não estou, como dizem por ai, alegre com o futuro que se vê no horizonte escuro das metrópoles – ou da bandeira. Não consigo olhar para frente tendo ao meu lado um amigo, um compatriota, que não possui um nome, não é brasileiro, não tem uma Identidade…

Até quando vou ser obrigado à ver ( na TV ) um carnaval sem fim, mulheres semi-nuas, homens vestindo abadas de cinco estrelas e estrangeiros prostituindo nossas crianças? Até quando vou ser obrigado à mendigar perdão por não poder ajudar?

Até quando vou ser obrigado à ouvir que Deus é brasileiro?

Quero mais que isso! Jeans, Rock, Baraus, Motocicleta, Sangue, Tinta para o meu rosto… Não estou interessado.

Quero uma nação que conte, cante a verdade e me diga que posso dormir em berço esplêndido, ao menos uma vez!

Quero marchar pra ter direito de não votar e não me matar! Quero que o planalto central se expluda!

“Amar e mudar as coisas me interessa mais!”, canta Belchior. Eu canto e choro ao saber que não estou só, mas ao mesmo tempo canto e choro ao ver que sou mais um. Não tenho uma Sereia pra me consolar.

Pirajá não valeu à pena? E os caboclos, cafuzos e mestiços o que será deles?

Não quero só uma Olimpíada e mais uma Copa para o “pais do futuro” que “cai do oitavo andar”. Meu povo merece mais que isso!

O Cristo Redentor não redimi essa juventude do seu coração – não em vida?! E aquela juventude, o que fez por este país, pintou a cara e sumiu por de trás das luzes do teatro ao fim do espetáculo?

Vivemos uma democracia e muitos ainda não sabem o que é isso. Eu não sei, e, garanto, você também não sabe – apenas achar que sabe!…

São duas e meia da manhã e olho para a janela do meu quarto. Será mais um dia para mim e mais um dia infernal para quem não tem um prato de feijões, no sertão do Cariri ou na Estrada Velha do Aeroporto, para dar para seu três filhos, esfomeados, que não estão na escola e acordarão às cinco da manhã para catar papelão ou fazer malabarismo com as mãos que deviam estar aprendendo à falar português… É feio mas não canso de ver – sou, por isso, sádico?

O mundo precisa de heróis, o Brasil precisa de alguém, o diabo que seja, para redimir um povo que ainda não sabe quem é ( ele, um povo)!

Ó Salvador…