Sonho vem sonhando bem sonhado: o novo presidente do Brasil já está com a faixa e se deixa flutuar pelos gramados do planalto central. A multidão ovaciona o mais novo presidente do país, da Ordem e Progresso. Todos se sentem orgulhosos pelo seu novo mandatário e governante. E, ele se sente amado por todos e goza de sua glória ao pisar os pés no Palácio do Planalto ou de sentir a grama da Granja do Torto sustentá-lo pela primeira vez.
Acorda!
– Acorda menino! – gritou da cozinha sua mãe – Menino, tá na hora de tomar café. E trate de andar logo para não perder suas aulas… Eu te conheço bem… Levanta moleque!
E se levantou como um gigante glorioso em berço esplêndido!
Caiu de novo em seu travesseiro cor de Carmim!
– Era sonho? Não, não mesmo, eu sou presidente! Meu primeiro decreto – levantou a voz como só um menino de oito anos de idade poderia e todos na sala de aula ouviram– será que: amanhã não haverá aula para meninos e meninas! Aliás, não, as meninas são muito chatas. Só meninos não terão aula amanhã! Viva eu!
E correu!
Como se fosse Napoleão, ergueu a mão com a espada e disse à lá D. Pedro: “Independência ou morte!”
Sebo nas canelas de saracura para que a professora não o pegasse pela orelha, como já fizera diversas vezes. “Meu cavalo branco é muito rápido – orgulha-se – é cavalo de Rei Turco! Você não me pega velha!
“A eu te pego seu moleque dos diabos…”, gritava a pobre freira!
E quando corria, corria pra valer até que o nobre cavalo pedia a rego e dormia debaixo de um cajueiro verde e amarelo. Tanto animal quanto cavaleiro deliciavam o fruto doce do grande sertão!
Mas, havia dois olhos no mato. Dois olhos de mato! Dois olhos de fato.
O menino não poderia ser rei por muito tempo! Impérios muito grandes não duram para todo sempre. E era a vez do céu azul, daqueles descampados no meio do nada, ver ruir uma babilônia.
– Eu sou o único manda-chuva por essas bandas! – uivou bem alto, como se fosse um lobo, o cachorro!
– Não tenho medo de cachorros! Caçar faisões é só para o que sevem!
E era pego!
A mãe pegou o menino pelo braço e o fez desmontar o jumento do seu Anastácio. “O velho pensava que lhe tinha roubado seu jegue, moleque”, exclamava a enfurecida mãe! “Fui comprar umas cebolas e ouvi a história que o velho contava ao delegado. E de quebra as velhas do convento dobravam a esquina. Aí, eu vi tudo!” O menino arregalou o olho esquerdo, como era de praxe quando pressentia que encrenca vinha perto!“E, agora corre pra dentro de casa, que se te pego no caminho sou capaz de umas coisas… Ah, Meu Deus… Corre, não disse pra ir pra casa?!”- gritou a mulher!
– Deixa pra próxima. Mas, se ele não detiver essa vontade de ser o melhor, vai ver só! Eu sou bem mal quando preciso, vê só!